Etiqueta, ter ou não ter?
“De fim a fim com trabalho árduo;
E aqui, pobre imbecil, com todo meu saber
Eu não sou mais sábio do que antes.”
- Johann Wolfgang von Goethe, “Fausto”
Dizem por aí que a educação nos torna pessoas melhores. Até acho que tendo acesso a uma educação formal (que usa moldes pra lá de ultrapassados, mas isso é uma outra história) lhe permite ter acesso a mais coisas e lhe abre mais oportunidades. Mas daí a dizer que as pessoas escolarizadas são melhores que as menos escolarizadas eu acho um absurdo.
O argumento que mais ouço por aí é que pobre é desbocado, mal educado, não sabe conversar sem abaixar o nível e coisas do tipo. Isso pode até ser verdade, mas será que é errado? A maioria das pessoas, quando está num ambiente onde ficar a vontade é tão desbocada quanto qualquer um. Exemplo clássicos são mesas de bar e brigas de família.
Em torno da mesa de um bar todos se transformam. Você se refere a sua chefe bonitinha e simpática como uma “boceta do caralho”, o presidente gasta mais com seu avião do que com saúde e vira um “filho da puta”, seu amigo fala bobagem e você manda ele “se foder” e coisas do gênero. Sem contar as brigas por motivos fúteis que, ao contrário do que dizem, nem sempre são motivadas pela bebida.
E em casa? Aquele cara que trabalha todo engravato com certeza arranca meleca do nariz enquanto vê “Jornal Nacional” e gruda a bendita debaixo do sofá, isso quando não anda de cueca pela casa coçando o saco por dentro da mesma. Tem gente que limpa a latinha antes de beber algo, mas bebe água no gargalo da garrafa (que a família inteira bebe) e coloca de volta na geladeira.
“Mas o bar é um lugar para se ficar a vontade”, dirão alguns. “Se não posso ficar a vontade nem casa, vou ficar aonde?”, dizem outros. Percebem? Quando você fica a vontade, é tão chulo e porco quanto qualquer um! E isso que chamamos de boa educação na verdade é uma amarra para parecermos pessoas sérias e confiáveis! Quem aqui nunca quis passar o dedo no bolo? Correr pelado pela casa? Gritar até ficar rouco? Beber qualquer bebida no gargalo? Mas não, a “boa educação” nos diz que tudo isso é errado.
Pode até ser que numa construção de obra os trabalhadores se ofendam e soquem muito mais que num escritório. Mas será que isso é realmente pior que toda aquela intriga e fofoca que rola onde você trabalha? Eu não acho. Na obra pelo menos eu tenho mais chances de saber quem me odeia ou não. Sem contar que eu prefiro ouvir um “vai tomar no seu cu” do que um ”eu sou doutor em [acrescente qualquer disciplina] e sei do que estou falando, você não”. E o filho da mãe Phd diz isso mesmo quando o assunto não tem nada a ver com o que ele estuda.
E isso gera um círculo vicioso onde achamos que nós graduados, pós-graduados e afins nos achamos melhores que quem faz serviços ditos “braçais”, pagamos pouco e não valorizamos seu trabalho. Eles por sua vez nos acham patrões e se colocam como vassalos a nosso serviço, não se permitindo evoluir em sua totalidade.
Só pra citar um exemplo, imagine se só os padeiros e lixeiros entrassem em greve. É fácil achar uma receita de como se faz um pão. Mas você conseguiria acordar as cinco da matina pra fazer seu pão de cada dia? Você pode até saber onde fica o depósito de lixo da sua cidade, mas teria tempo de ir lá no mínimo duas vezes por semana? É meu amigo, da próxima vez que topar com algum desses “trabalhadores braçais” agradeça e valorize o trabalho deles, pois diversas facilidades da sua vida não são obra de seu marketing pessoal.
E, por favor, pare de usar o termo “lixeiro” para ao futuro de alguém que não tira notas altas na sua sala de aula. Já seria um bom começo.
E aqui, pobre imbecil, com todo meu saber
Eu não sou mais sábio do que antes.”
- Johann Wolfgang von Goethe, “Fausto”
Dizem por aí que a educação nos torna pessoas melhores. Até acho que tendo acesso a uma educação formal (que usa moldes pra lá de ultrapassados, mas isso é uma outra história) lhe permite ter acesso a mais coisas e lhe abre mais oportunidades. Mas daí a dizer que as pessoas escolarizadas são melhores que as menos escolarizadas eu acho um absurdo.
O argumento que mais ouço por aí é que pobre é desbocado, mal educado, não sabe conversar sem abaixar o nível e coisas do tipo. Isso pode até ser verdade, mas será que é errado? A maioria das pessoas, quando está num ambiente onde ficar a vontade é tão desbocada quanto qualquer um. Exemplo clássicos são mesas de bar e brigas de família.
Em torno da mesa de um bar todos se transformam. Você se refere a sua chefe bonitinha e simpática como uma “boceta do caralho”, o presidente gasta mais com seu avião do que com saúde e vira um “filho da puta”, seu amigo fala bobagem e você manda ele “se foder” e coisas do gênero. Sem contar as brigas por motivos fúteis que, ao contrário do que dizem, nem sempre são motivadas pela bebida.
E em casa? Aquele cara que trabalha todo engravato com certeza arranca meleca do nariz enquanto vê “Jornal Nacional” e gruda a bendita debaixo do sofá, isso quando não anda de cueca pela casa coçando o saco por dentro da mesma. Tem gente que limpa a latinha antes de beber algo, mas bebe água no gargalo da garrafa (que a família inteira bebe) e coloca de volta na geladeira.
“Mas o bar é um lugar para se ficar a vontade”, dirão alguns. “Se não posso ficar a vontade nem casa, vou ficar aonde?”, dizem outros. Percebem? Quando você fica a vontade, é tão chulo e porco quanto qualquer um! E isso que chamamos de boa educação na verdade é uma amarra para parecermos pessoas sérias e confiáveis! Quem aqui nunca quis passar o dedo no bolo? Correr pelado pela casa? Gritar até ficar rouco? Beber qualquer bebida no gargalo? Mas não, a “boa educação” nos diz que tudo isso é errado.
Pode até ser que numa construção de obra os trabalhadores se ofendam e soquem muito mais que num escritório. Mas será que isso é realmente pior que toda aquela intriga e fofoca que rola onde você trabalha? Eu não acho. Na obra pelo menos eu tenho mais chances de saber quem me odeia ou não. Sem contar que eu prefiro ouvir um “vai tomar no seu cu” do que um ”eu sou doutor em [acrescente qualquer disciplina] e sei do que estou falando, você não”. E o filho da mãe Phd diz isso mesmo quando o assunto não tem nada a ver com o que ele estuda.
E isso gera um círculo vicioso onde achamos que nós graduados, pós-graduados e afins nos achamos melhores que quem faz serviços ditos “braçais”, pagamos pouco e não valorizamos seu trabalho. Eles por sua vez nos acham patrões e se colocam como vassalos a nosso serviço, não se permitindo evoluir em sua totalidade.
Só pra citar um exemplo, imagine se só os padeiros e lixeiros entrassem em greve. É fácil achar uma receita de como se faz um pão. Mas você conseguiria acordar as cinco da matina pra fazer seu pão de cada dia? Você pode até saber onde fica o depósito de lixo da sua cidade, mas teria tempo de ir lá no mínimo duas vezes por semana? É meu amigo, da próxima vez que topar com algum desses “trabalhadores braçais” agradeça e valorize o trabalho deles, pois diversas facilidades da sua vida não são obra de seu marketing pessoal.
E, por favor, pare de usar o termo “lixeiro” para ao futuro de alguém que não tira notas altas na sua sala de aula. Já seria um bom começo.
2 Comments:
Tava me questionando sobre isso nestes dias...ter ou não etiqueta?
Sei que sou um cara meio escroto as vezes,e gosto de mim assim mesmo...tive uma pusta educação e não consigo mais me prender a ela,fora que sou desgrenhado e muitas vezes não percebo o que estou falando ou fazendo...acabo por me tornar inconveniente...
Uma pessoa ia me ensinar a ter etiqueta,como andar e sentar direito e tudo mais...acabei não querendo não,obrigado.
Eu estava numa esquina, tomando cerveja com um amigo meio boysinho e universitário, quando ele olhou para os lixeiros correndo e pulando para jogar as coisas em um caminhão, quando ele soltou uma frase que marcou minha vida:
"Trabalho do caralho. Os caras são heróis."
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